Caras


2003-05-04, CARAS
por Mónica Menezes
Num primeiro contacto, pode ser difícil sentir empatia com Sofia Aparício. Manequim e actriz, Sofia é uma pessoa reservada que faz tudo para manter fechadas as portas da sua vida privada.Os primeiros minutos de conversa acabam por arrancar-lhe o esboço de um sorriso que se vai alargando com o fluir da entrevista. No fim, descobre-se uma mulher muito bem-disposta que sabe bem o que quer da vida, que desvaloriza a palavra destino, que se imagina a viver no campo, que não dispensa um chocolate de vez em quando e que se imagina a morrer muito velhinha e com muitas rugas. Medos? Só um: o de ficar gorda.
–Profissionalmente, o que é que a Sofia está a fazer?
Sofia Aparício – Não posso desvendar grande coisa. Tenho alguns projectos que não estão ligados à moda, apesar de ter estado envolvida na organização da Moda Lisboa.
–Mas esses projectos que não quer desvendar são como actriz?
– Sim, são como actriz, porque é mesmo isso que eu quero seguir. Tenho muita vontade de voltar a fazer teatro e cinema. Eu quero mesmo ser actriz, e por isso é que quero voltar a fazer teatro, para crescer, evoluir... Se tiver oportunidades para regressar, voltarei, mas só se forem papéis que se mostrem como um desafio. Se for para fazer de Sofia Aparício, isso não quero, não quero ser uma jarra de flores, isso não tem interesse. Agora a minha vida está num certo impasse, tenho aquele friozinho no estômago à espera de ver o que vai acontecer.
– Aos 32 anos, como é que vê o seu futuro na moda? Até quando vai ser manequim?

– Não faço a mínima ideia... Ainda não pensei em desistir, apesar das pessoas terem pensado que quando deixei de fazer a Moda Lisboa deixei de ser manequim, mas não foi nada disso. Tenho continuado a fazer inúmeros trabalhos como manequim, mas não escondo que tenho saudades de desfilar na Moda Lisboa, porque aí acho que é o auge para qualquer manequim português. É moda a sério. O cabelo tem que ver com a maquilhagem, a atitude tem que ver com a roupa...
– E o que é, afinal, ser manequim? É também ser actor?
– Ser manequim é uma profissão, acima de tudo. Acho que todas as miúdas que quando acordam se olham ao espelho e pensam que são lindíssimas – nunca me aconteceu! – não podem logo achar que vão ser manequins. É preciso ter atitude, é preciso saber vestir roupa, encarnar várias personagens. Um bom manequim tem de ter uma personalidade muito versátil, tem de ser actor. A moda são atitudes e comportamentos. Eu digo muitas vezes que uma mulher muito bonita pode não conseguir transmitir atitude nenhuma.
E quando a Sofia se olha ao espelho, o que é que vê?
– Simplesmente, não me olho ao espelho! (risos) Nunca me achei bonita, e não estou a ser falsamente modesta. Não gosto de dizer isto porque parece que estou à espera de receber elogios, mas é o que eu sinto. Sou manequim, mas não sou bonita, tenho imensos defeitos por todo o lado. E sempre achei que quanto mais feia me punham, quanto mais estranha ficava, mas bonita me sentia.

– Mas tem um corpo que faz inveja a muitas pessoas...
– Não tenho nada... A única coisa que faço para manter a boa forma é kick-boxing, que só pratico há um ano. É um desporto que me dá imenso gozo e que pratico algumas vezes por semana. De resto, tenho alguns cuidados com a alimentação, porque não me importo de envelhecer, imagino-me velhinha e com rugas, mas não me imagino gorda.
– Segue alguma dieta? Consulta algum médico?
– Eu nasci muito gorda, e como a minha mãe é médica, ensinou-me a comer. Como de tudo um pouco, hoje, por exemplo, almocei um cozido, mas à noite já vou fazer uma refeição mais leve. Eu gosto de comer tudo, tento é comer com moderação. Depois, tenho um médico amigo, o Fernando Póvoas, e quando engordo dois ou três quilos, vou lá chorar, ele ri-se muito de mim e dá-me um ou outro conselho. Quero ser saudável durante muito tempo, quero ser uma velhinha sã. A minha avó morreu com 99 anos e era a mulher mais bonita do mundo. Eu quero ser como ela, quero lá chegar.

– Para além de ter posto silicone no peito, fez mais alguma plástica?
– Não, e para já não penso fazer mais nenhuma. Não condeno quem as faz, pois acho que as pessoas devem fazer tudo o que as deixa mais felizes, independentemente do que os outros podem pensar. Eu pus silicone no peito quando tinha 17 anos, era muito nova, mas como a minha mãe é médica, viu que não havia problema nenhum, porque eu já tinha crescido tudo. Mas na altura as pessoas diziam que em vez de me preocupar com o peito devia era operar o nariz. E isso eu nunca vou fazer. Sei que o meu nariz é feio, mas um dia as pessoas vão lembrar-se do meu nariz. (risos)

– Diz que não tem medo de envelhecer... Como é que se imagina daqui a uns anos?
– Magrinha e em cima de um palco! Mas a minha vida já deu tantas voltas que não consigo projectar muitas coisas. Nós nunca sabemos o que nos vai acontecer, mas acredito que o que nos acontece não é muito diferente do que nós pensámos.
– Acredita no destino?
– Nem sei muito bem o que isso é. Não acredito que haja uma linha traçada e que é isso que me vai acontecer, não acredito nisso. Tenho a certeza absoluta de que o meu destino será aquilo que eu fizer dele. Não me consigo imaginar assim a tão grande distância, não sei se no futuro terei vontade de ter filhos ou não, tudo pode acontecer, mas sou eu que decido sempre.

– Já teve vontade de ter filhos?
– Ainda não. Tenho uma sobrinha que adoro que já me enche muito o coração.
– Gravidez também pode significar uns quilos a mais... Para quem tem pavor de ficar gorda, isso assusta-a?
– Não me assusta nada engravidar por causa das alterações físicas, o que me assusta com a gravidez é o facto de poder não ser uma boa mãe, ter a insegurança de o meu filho não nascer saudável... Preocupar-me-á tudo menos estragar o corpo, até porque se tivermos cuidados não se estraga tanto o corpo. E a recompensa deve ser tão boa que uma mulher nem deve pensar no corpo.

– E como é o pai ideal para os seus filhos?
– Ainda não encontrei, quando encontrar eu digo! (risos) Nunca encontrei alguém com quem me apetecesse ter filhos.
– Nem consegue sequer idealizar essa pessoa?
– Não, e se fosse assim era muito fácil: escolhia uma pessoa inteligente, bonita, com boa genética, mas as coisas não se processam assim, tem de se ter um filho por amor e sentir que é aquela pessoa que queremos.
– Mas já amou verdadeiramente? Já viveu “aquele” amor?
– Prefiro não responder a isso... Não gosto de falar sobre a minha vida privada.
– E quando ama, é de corpo e alma? É uma pessoa de paixões muito intensas?

Eu sou sempre ou oito ou oitenta, não suporto meios termos. É nos extremos que encontro o meu equilíbrio.

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