OS CORAÇÕES TAMBÉM SE GASTAM

(...)Sabemos tantas coisas e depois não sabemos responder às perguntas mais simples. Onde, porquê e para quê. É este o absurdo dos estranhos dias que vivemos. É dele que somos feitos, não tenhas medo. O que sentes agora? Confusão. Porque não te deitas no chão ao meu lado e paras de andar de um lado para o outro como se algo de invisível te perseguisse? O invisível és tu. És tu que te persegues, Simão. Porque não sossegas? Porque continuo confuso. Cada vez mais confuso. E tu, Sofia? Tudo em mim é desacordo. O que sou e o que faço, o que queria fazer e o que vou fazendo, as minhas próprias ambições se contradizem. Quero viver no céu e mergulhar no mar. No princípio foi difícil. Parecia-me violentamente puxada para um lado e para o outro, estilhaçada, sem poder decidir. Queria viver tudo, mau ou bom pouco importava. Queria experimentar tudo, tanto o que faz bem como o que faz mal. Queres alguma coisa de mais frágil e preciosa do que a vida? De mais sagrado? Aceitar que é assim, é aceitar o desacordo. Se não fosses assim eras uma coisa com contornos, com um peso e um tamanho. Serias como este sofá. E não é possível um sofá sentar-se num sofá. Agarra no sofá e deita-o pela janela fora e depois vem deitar-te ao meu lado. Pelo menos já conseguimos alguma coisa, dizes. O quê? Começar. Agora basta continuar(....)"
"(...) A falta não é uma insuficiência, um defeito a que estaríamos condenados. A falta é o que nos faz continuar. E o mais importante é aprender, o mais lindo. E a ignorância é a condição de aprender. Não saber e querer saber. É a minha contradição, o que completa o meu destino.Estamos sempre acordados a sonhar. Só de mistura com o sonho, com a esperança ou a desesperança, vivemos. Precisamos de juntar o que é, com o que não é. Estamos sempre a ficcionar. Só assim a vida pode ser vivida.O olhar o espelho e ficar a perguntar quem seremos. É estranho ver uma silhueta, uma mão que se agarra á nossa cabeça, uma boca a sorrir. É bem mais difícil conhecermo-nos do que conquistar um abrigo inimigo.Procura o que tens em ti mesmo sabendo que nunca vais encontrar tudo.Simplesmente adormecer, por vezes é tão difícil. Quando a lucidez se torna insuportável, quando a realidade me arrasa, quando o tempo bate devagar muito devagar à cadência ensurdecedora dos segundos. Porque o tempo, esse, nunca se cansa(...)" OS CORAÇÔES TAMBÉM SE GASTAM, CASA COMIGO EM AGOSTO, PEDRO PAIXÃO/SOFIA APARÍCIO

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