Super elite

Sofia Aparício tem 30 anos de vida, quinze dos quais dedicados à moda. Hoje em dia prefere olhar para si como actriz e faz da passagem pelas passereles uma etapa que está a terminar. O maior ícone da moda portuguesa falou com a Super Elite e revelou muitas curiosidades sobre si, referindo o seu mais recente projecto na pele de Mafalda, na série da TVI, Super Pai.
Porque são muitas as curiosidades que as estrelas despertam, a Super Elite resolveu dar a oportunidade aos leitores de serem eles a levantar as questões que gostariam que Sofia Aparício respondesse. O resultado faz parte desta entrevista. As curiosidades que os nossos leitores sugeriram por e-mail estão assinaladas com pergunta do leitor (PL) no início.

PL: Quando é que começou a sua carreira de manequim?
Há 15 anos, eu tenho trinta... portanto... Tudo aconteceu da forma mais normal. Na altura eu comecei a ser modelo, e ainda estava na escola. Depois cheguei a ir para a Universidade e não precisava de ir às aulas, só aos testes, e cada vez mais o trabalho aumentava e ganhava mais dinheiro...
E não continuou a estudar?
Não, eu estava no curso errado, estava tirar Gestão na Universidade Católica. A universidade era errada e o curso também. Se hoje voltasse atrás e escolhesse um curso diferente tirava História de Arte. Não me serviria para muita coisa, acho o poderia utilizar em poucas situações da vida, mas tenho a certeza que o teria acabado.
A Arte é uma paixão?
A Arte é indispensável na minha vida. Tendo as necessidades básicas todas asseguradas, torna-se muito importante. Eu adoro ver. Lembro-me da primeira vez que vi a Pietá de Michelângelo. Sentei-me a olhar e quando reparei estava ali há três quartos de hora e nem tinha dado por isso. Não sei o que acontece mas fascina-me, tem um efeito sobre mim muito forte. Tudo o que seja arte, que me desperte estas sensações, é muito importante
PL: De onde retira as maiores sensações?
No trabalho e nas viagens que faço. Gosto imenso de viajar, não em trabalho, nem sequer da comum «semana-em-Nova-Iorque». Gosto muito de sair daqui e ir para a Jamaica ou outro país do mesmo tipo. Adoro estes destinos exóticos onde estou longe, sem ter tudo marcado. Geralmente tenho hotel para as duas primeiras noites mas depois mudo-me logo para outro mais pequeno, mais característico e próximo das pessoas locais. Isso para mim é viajar... ter contacto directo com outras culturas. Odeio os pacotes com tudo incluído!
PL: O que faz nos tempos livres?
Leio muito, trato da minha gatinha linda. Gosto de pegar no carro e desaparecer durante um fim-de-semana com dois amigos. Comecei agora a fazer Yoga mas acho que vai deixar de ser um hobbie para passar a ser uma forma de vida. É como o budismo, leva-nos a respeitar todos os seres vivos.
Olha para si com uma carreira cheia de sucessos na moda. Iniciar-se numa nova área, agora pelos palcos do teatro ou estúdios de televisão, não lhe desperta algumas inseguranças?
A segurança não se perde quando queremos fazer as coisas muito bem e temos a noção que podemos fazer as coisas erradas. Como manequim eu conheço-me tão bem, tenho tanta certeza dos meus handicaps, como eu os conheço tão bem sei viver com elas e desfilar com elas (as inseguranças)! No palco é diferente, sou muito insegura... mas tento dar o meu melhor.
PL: Nunca sentiu falta de formação profunda?
Senti, por exemplo, de computadores... é uma coisa que eu vou perceber. Até já comprei um e agora devagarinho vou aprender. Como manequim tens uma vida muito agitada, tens de andar sempre de um lado para o outro. Cresci a muitos níveis porque fiz disso prioridade, por exemplo eu nunca deixei de ler, leio muito.
Em termos de gosto senti que evolui. Gostos não se discutem, mas existe bom gosto e mau gosto e o gosto educa-se. Eu passei por muitas situações onde a formação e a aprendizagem em algumas áreas falharam, mas por outro lado foram complementadas pelas experiências que tive noutras, completamente diferentes.
É parecida com a Mafalda?
Talvez a Sofia Aparício, tal como o público a conhece possa parecer- se com a Mafalda, mas eu sou muito diferente. Eu sou muito tímida e gosto de passar despercebida. A Sofia Aparício, tal como a Mafalda, são predadoras, ambas são mulheres grandes que quando passam os homens olham...
Mas gosta da sua personagem?
Sim, acho que ela anda um bocado perdida, porque está habituada a ter todos os homens e aquele que ela gosta não lhe liga. O Vasco trata muito mal a Mafalda... eu gosto dela mas não é parecida com a verdadeira Sofia. Por exemplo, eu adoro crianças, ao contrário da Mafalda, que está sempre a embirrar com elas.
O que pensa do resultado da série?
Nas filmagens não se tem a noção de como vai ficar o episódio, e quando vi pela primeira vez fiquei muito surpreendida. Acho que é um tipo de série familiar que resulta muito bem e depois da primeira série já nos estavam a pedir mais episódios, o que é muito bom.
A sua família apoia-a nestas novas etapas?
Sim, apoia-me sempre. Aceita-me como eu sou. Eu peço-lhes sempre que sejam os mais críticos possível e em relação ao Super Pai apenas me disseram que gostaram, o que é bom sinal porque quando não gostam são muito duros, quase me matam... por isso acho que deve estar bem.
O que acha do seu desempenho como actriz?
Eu detesto ver-me, acho sempre que estive mal e que podia ter feito muito melhor. Sofro imenso com o medo de não estar à altura do papel... é um desconforto muito grande.
PL: Podemos dizer que a actriz superou a manequim?
Sim. A moda fará sempre parte da minha vida, eu gosto muito da moda a nível criativo, das imagens que cria, por isso vou estar sempre ligada à moda, não só à roupa. Mas hoje em dia o ser actriz, que ainda não sou, é muito mais importante. Já superou a moda, sem dúvida.
PL: O que lhe parece o facto de vários jovens actores não terem a oportunidade de entrar no mundo da representação e dessa oportunidade ser dada a manequins sem qualquer formação, apenas uma imagem mais conhecida e «vendável»?
Acho que isso também acontece com os próprios manequins na moda. Eu precisei de ir a muitos castings até «pegarem em mim». Nem todas as manequins que vão para televisão ficam e funcionam, e só se mantém as que forem realmente boas naquilo que se propõem. Ficam as que têm algum talento, não basta uma cara bonita. Creio que é uma tendência da sociedade de consumo.
PL: Que sacrifícios fez, em função da profissão?
Por exemplo, rapar o cabelo não foi sacrifício, foi uma coisa que eu quis. Durante dois anos tive essa ideia e só não o fiz mais cedo porque não pude... portanto sacrifício foi não o ter feito na altura que eu queria. Eu sempre mudei em mim as coisas como eu queria, mas fui inteligente o suficiente para esperar pela altura certa. Só rapei o cabelo na altura em que achei que daria resultado.
Sacrifícios não faço. Por exemplo, eu não como menos por ser modelo, mas também não era capaz de trabalhar depois de comer feijoada ao almoço. Claro que se me apetece muito uma coisa - por exemplo agora comia uma farinheira - tenho a certeza que ficava enjoada de farinheira e gordura durante muito tempo... São hábitos, mas não são sacrifícios. A minha profissão só me pede que mantenha as minhas medidas.
PL: É supersticiosa?
Não. Não acredito em gatos pretos e adoro a sexta-feira 13, mas tenho alguns objectos que me fazem acreditar que por os ter vai tudo correr bem. Benzo-me antes de entrar em palco e não sou particularmente católica, embora tenha tido formação nesse sentido. Acabam por ser actos que funcionam como rituais que me dão segurança.
PL: Quais são as suas medidas?
90-60-90. 86-60-86 nunca foram as minhas medidas e ainda bem que não foram, porque só assim tive coragem para assumir o programa. São medidas-padrão que servem apenas de referência. Não devem servir de obsessão, eu nunca quis ter estas medias e até me irritou muito aquela altura em que a moda era cheia de pessoas anorécticas.
Mas quem é que cria essas referências?
A moda reflecte o que se passa na sociedade. Já se usou roupa em segunda mão, já se usaram muitas coisas ditadas pela sociedade. A sociedade não dá às pessoas a oportunidade de elas conseguirem o que querem... mas isso não é culpa da moda nem do cinema...
A gordura incomoda-a?
Eu adoro mulheres magras e corpos de homem muito magros, acho mesmo muito bonitos...mas nunca vou ser. Nunca vou deixar de comer para o ser... é uma questão de prioridades, formação e valores. Mas se as prioridades das pessoas forem tão fúteis a ponto de se obrigarem a isto ou aquilo para serem iguais a alguém, o melhor é esquecer. Qualquer pessoa por mais gorda ou baixa que seja é sempre bonita.
PL: Aos 30 anos, com a carreira na moda bem sucedida e com vários passos nos palcos, que objectivos traça a nível pessoal? Família e filhos estão nos planos?
Família já tenho. A minha família são os meus pais, a minha irmã, a minha sobrinha, a senhora que me criou e três amigos. Não faz parte dos meus planos casar-me, sinceramente não me imagino casada. Também não digo «desta água não beberei», mas para mim o casamento só faz sentido se for religioso e eu não acredito em nenhuma religião a ponto de o casamento fazer sentido. De outra forma também não, porque eu não tenho de assinar papel nenhum para estar com uma pessoa.
E os filhos, fazem parte da realização?
Fariam... sim fariam...Mas só terei filhos se sentir que tenho tudo aquilo que eles merecem para eu lhes dar. Não seria egoísta a ponto de depois de os ter achar que deixei de fazer alguma coisa por eles e culpá-los. Por isso não são um objectivo mas antes uma vontade e um desejo.
Outros objectivos para um futuro próximo?
Uma das coisas que ainda é objectivo é ser, verdadeiramente, actriz. Isto é uma coisa que eu estou a gostar cada vez mais.
Este ano fez parte da organização da Moda Lisboa. Estar do outro lado, nos bastidores de um grande evento realiza- a mais do que desfilar?
Sim, muito mais. Quando era miúda nem sequer queria ser manequim, e nunca foi uma coisa que eu quisesse. Disseram-me «tira o curso e aprende a andar de saltos» e eu aprendi e com isso aprendi também a gostar de ser manequim. Mas a certa altura deixa de haver novidade. Desta vez estive como relações públicas e preferi muito mais do que nas outras Moda Lisboa onde estive apenas como manequim. Aprendi muito mais. Como manequim aquilo que mais me estimulava era porem- me as roupas mais fantásticas, mais estranhas e eu desfilar com elas, e cheguei a um ponto a que já acho que consegui fazer isso razoavelmente bem. Desta vez o facto de estar responsável por toda a imprensa internacional e o contacto directo com todos ensinou-me muito...absorvi muita informação. E se no primeiro dia estava cansada, no final estava exausta mas gostei muito, e acho que isso é também trabalhar em moda de uma forma até mais activa do que como manequim.
A cirurgia estética foi um acto de construção de imagem?
Não, porque as imagens não se constroem. Eu não era capaz de fazer se não achasse que tinha a ver comigo, com a minha personalidade.
PL: Então porque é que pôs o silicone?
Eu era muito nova quando o pus e fi-lo porque me iria sentir muito melhor assim. Vieram dizer-me «não ponhas, vais-te arrepender», mas eu perguntei à minha mãe, que é médica, se era perigoso, informei-me de todos os contras e achei que não havia mal, por isso é que fiz com segurança e consciência do que estava a fazer... e nunca me arrependi.
E outro tipo de cirurgia, era capaz de fazer?
Sempre me disseram para operar o nariz, mas nunca quis porque ele pode ser feio mas é meu e eu gosto de me ver assim. Com outro nariz não seria eu. Não acho mal que as pessoas o façam, mas eu não quero.
Tem medo de envelhecer?
Nuca tive medo de envelhecer até agora. Não tenho medo de ficar com rugas. Tenho mais medo de engordar do que envelhecer. Não me imagino feliz gorda, mas imagino-me feliz velhinha.
Filipa Matos (texto)

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